Ato 03
Localidade: Você chegou a um porto. Encontro Urbano: Um possível Aliado.
O odor salgado da maresia chegou até Michi trazido pela brisa
bem antes de Michi ver o mar e a cidade abaixo e o os navios atracados na baia.
Haviam lhe dito que a cidade chamava-se Isumi e era um importante porto
comercial controlado pelo clã da tartaruga, Shinkame, um clã que ela nunca
ouvirá falar. Um clã novo que provavelmente ascendeu após eliminar outro clã
local.
Michi caminhava pela rua do porto que era uma profusão de
cores, cheiros, e idiomas estranhos. Trabalhadores iam para todos os lados
levando mercadorias. A ronin viu até mesmo alguns estrangeiros: homens de
Koguryo e Dong Wu, homens das distantes terras ocidentais e até mesmo alguns de
pele negra como o carvão.
Os quiosques e restaurantes serviam uma enorme variedade de
pratos, seus nomes estranhos escritos nas tabuletas evidenciavam suas origens
estrangeiras. Talvez ela se propusesse experimentar um daqueles pratos.
Enquanto ela se decidia sobre o que comer um transeunte esbarrou nela com tal
violência que quase a derrubou.
Michi esperou que ele se desculpasse, mas o homem
simplesmente a ignorou. Mas ela não podia ignorar tamanha descortesia.
- Ei, você?! É descortês esbarrar nas pessoas e fingir que
nada aconteceu!
Ele olhou para ela como se a visse pela primeira vez. Trazia
na cintura uma katana, mas não fez menção de pega-la. Falou com uma voz
marcante:
- Não me incomode garota! Você não sabe o que está
acontecendo!
- Só sei que é um mal educado e deve aprender boas maneiras!
Neste instante um alvoroço toma conta da rua. Alguns
soldados do clã Shinkame cercam o homem. Com eles estão alguns ocidentais.
- Devolva o que roubou, ladrão! – um ocidental, de barba e
barriga enorme esbravejou num sotaque engraçado que tirou um sorriso
involuntário de Michi
- Você está com ele, mulher?! – o ocidental olhou para ela.
- Nem o conheço. – Michi se afastou e os soldados voltaram a
se concentrar no homem.
- Não roubei nada! – o homem retrucou – Eu paguei por esse
remédio, mas vocês me enganaram, me dando erva sem valor. Vocês podem tentar
tira-lo de mim!
Ele moveu os pés, se posicionando, sua mão direita indo até
a empunhadura da espada, mas não a desembainhou. Michi já vira aquela postura
antes: ele era um praticante do iaijutsu, cujo primeiro movimento podia ser
fatal. Os soldados titubearam.
Então ela viu. Um dos ocidentais levantou o que parecia uma
haste, servia de suporte para um pequeno arco, onde se assentava um virote; era
uma arma ocidental chamada besta. O homem mantinha o dedo sobre uma espécie de
gatilho e procurava uma boa mira.
O homem seria morto a traição. Uma morte sem honra para um
valente guerreiro. Ela não podia permitir aquilo. Sacou a espada e golpeou a
besta, destruindo-a. Ela também golpeou o homem gordo soldados que estavam
próximos dela derrubando-o.
- Eles iam matá-lo a traição! – ela gritou passando pelo
homem – Não podia ignorar tamanha desonra! Vamos!
Aproveitando a confusão ambos correram se misturando na
multidão, dobrando uma esquina e após entrar num beco e sair numa rua menos
movimentada continuaram avançando para a parte da cidade mais distante do
porto. Finalmente chegaram na área mais pobre da cidade. O homem guiou-a até um
casebre. Quando Michi entrou percebeu imediatamente que estava na casa de um
curandeiro.
- Sou Yoshiro Hira, curandeiro desses pobres coitados, pelo
menos tento, bem vinda ao meu lar.
- Sou Michi Shokunin.
- Uma artesã...
- Não mais! – ela apressou-se em dizer.
- Ah, Emi! – uma garota apareceu – Traga um chá para nós.
Emi é minha assistente e aprendiz. Veja, Emi, consegui o remédio!
- Encomendei esse remédio da distante Goa – ele explicou
após a garota sair – ele me ajudará a combater uma doença, uma espécie de
disenteria, que ataca essas pessoas, debilitando-as, impedindo-as de trabalhar
e levando a morte as crianças mais novas.
- Por favor, torne-se nossa hóspede – Yoshiro convidou enquanto
sorviam o chá trazido por Emi.
Aceitando a hospitalidade a ronin ficou na casa do
curandeiro alguns dias. Tendo Emi como
guia conheceu a cidade e todos os seus lugares pitorescos, experimentou comidas
exóticas, viu as mulheres ocidentais e suas estranhas vestes, passeou descalça
na praia e tomou banho de mar. Foi um tempo refrescante.
Durante esse tempo ela refletiu sobre o que levou um
praticante de Iaijutsu a se tornar curandeiro daqueles miseráveis. Ele nunca
lhe disse e ela decidiu não perguntar. O destino traçava caminhos estranhos, às
vezes e a redenção podia se revelar de diversas formas para um homem.
Mas o dia da partida chegou e Michi deixou a cidade de Isumi
para trás, deixando para trás dois amigos e um aliado na figura do curandeiro
Yoshiro.
Outro bom capitulo. Michi monstrando seu caráter perante a desonra cometida... Adorei kkk
ResponderExcluirMichi está se tornando uma personagem interessante mesmo. Obrigado por ler
Excluir